Estes três livros são reedições. O primeiro custa cerca de 17€, os outros dois 20€ ― preços, é seguro dizer, muito altos para o bolso português. Todos foram publicados no passado em versões paperback mais baratas ― em pelo menos um dos casos, a cerca de um quarto do preço da nova edição. Porquê fazer estas edições em capa dura? As edições em capa dura são necessariamente mais caras, e alguns desses livros chegam a custar o dobro das versões em capa mole.
Não é o caso destes livros. De um lado, temos um jovem escritor que se vê barrado do público português, porque aquilo que poderia ser um ponto de viragem na sua carreira se materializa em 17€ de mais-capa-que-texto.
Do outro lado,
temos duas peças de museu, as fotografias de duas das (na minha
opinião) mais belas capas por trás das quais a ficção portuguesa se encontrou, sobre fundo cinzento, em jeito de homenagem preguiçosa. Livros que não são para ler, mas sim para
lembrar?
Os livros de capa dura fazem sentido num país com este nível de vida, tanto do ponto de vista do editor/gestor (lucro) como do ponto de vista do público (acessibilidade)? Quem compra estes
livros? Para quem se publica? As editoras não têm a responsabilidade de
fazer os livros chegar ao grande público (isto é, de fazer livros que as pessoas
consigam pagar)? É possível falar ainda em responsabilidade das editoras?
André Schiffrin
escreve:
“A ideia de que
um livro deve ser barato de modo a chegar a um público o mais vasto possível
foi substituída por decisões de contabilidade que só olham para os totais em
caixa. (...) A nova regra veio ditar que agora o lucro por livro tem de ser o mais elevado possível.”
Trata-se, também nestes casos, de uma lógica de contabilizar os lucros por cada livro individual, em vez de olhar para o que provém da totalidade do catálogo, gerindo a editora num equilíbrio entre livros que se vendem a ritmos diferentes? Menos livros, mas
mais caros ― é também assim em Portugal?
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