terça-feira, 1 de outubro de 2019

Sobre responsabilidades e custos

 

Estes três livros são reedições. O primeiro custa cerca de 17€, os outros dois 20€ preços, é seguro dizer, muito altos para o bolso português. Todos foram publicados no passado em versões paperback mais baratas ― em pelo menos um dos casos, a cerca de um quarto do preço da nova edição. Porquê fazer estas edições em capa dura? As edições em capa dura são necessariamente mais caras, e alguns desses livros chegam a custar o dobro das versões em capa mole. Mas, como se pode ler aqui, a diferença nos preços não está tanto nos custos materiais quanto no estatuto que a capa dura atribui ao livro, no que toca a durabilidade, dimensão, autoridade ― como que uma consagração do texto. Atualmente, diz-se aqui, a capa dura serve como, mais que a constituição de algo como uma aura do grande livro, uma estratégia comercial para colocar preços mais altos nos livros recém-publicados, obrigando os leitores a escolher entre esperar cerca de um ano para ler o livro em paperback e pagar mais para o ler logo que sai. (O último livro de Lobo Antunes faz uma exceção curiosa, com o hardback a 24€ e o paperback a 21€.) 
Não é o caso destes livros. De um lado, temos um jovem escritor que se vê barrado do público português, porque aquilo que poderia ser um ponto de viragem na sua carreira se materializa em 17€ de mais-capa-que-texto.



Do outro lado, temos duas peças de museu, as fotografias de duas das (na minha opinião) mais belas capas por trás das quais a ficção portuguesa se encontrou, sobre fundo cinzento, em jeito de homenagem preguiçosa. Livros que não são para ler, mas sim para lembrar?

Os livros de capa dura fazem sentido num país com este nível de vida, tanto do ponto de vista do editor/gestor (lucro) como do ponto de vista do público (acessibilidade)? Quem compra estes livros? Para quem se publica? As editoras não têm a responsabilidade de fazer os livros chegar ao grande público (isto é, de fazer livros que as pessoas consigam pagar)? É possível falar ainda em responsabilidade das editoras?

André Schiffrin escreve:
“A ideia de que um livro deve ser barato de modo a chegar a um público o mais vasto possível foi substituída por decisões de contabilidade que só olham para os totais em caixa. (...) A nova regra veio ditar que agora o lucro por livro tem de ser o mais elevado possível.”

Trata-se, também nestes casos, de uma lógica de contabilizar os lucros por cada livro individual, em vez de olhar para o que provém da totalidade do catálogo, gerindo a editora num equilíbrio entre livros que se vendem a ritmos diferentes? Menos livros, mas mais caros ― é também assim em Portugal?

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