Primeiro exercício: aplicar a pontuação
ao texto de Ferreira Fernandes e criar um título. Algumas das minhas
escolhas coincidem com o texto original, mas outras alteraram
completamente o sentido que o autor quis exprimir a princípio.
Depois de uma segunda análise, vi que alguns trechos não fazem
grande sentido. Foi um exercício muito interessante de se fazer –
troquei com uma colega que fez escolhas bastante distintas das
minhas. Acredito que todos pudemos ver mais possibilidades para as
frases a partir da percepção do outro.
Decreto
Há muitos a querer que o nosso mais
recente arguido, o juiz do acórdão, tenha a sua pena agravada.
Lembro que ele foi condenado em primeira instância a ser o Juiz Neto
de Mora e, nessa condição, debitar acórdãos lapidares como quem
apedreja sentenças bíblicas. A tese de um dos promotores de pena,
ainda maior: a do humorista João Quadros ver a sua conta no Twitter.
A folhas tantas é de que ele deveria ser denunciado por ganhar uma
fortuna de subsídio de deslocação entre os tempos pré-históricos
em que vive e os dias de hoje, distância que tem de percorrer de
cada vez que atira um acórdão, outra recorrente. A feminista Maria
Capaz exige que o badalado arguido venha à janela do tribunal da
relação do Porto, quando ela e um grupo de sequazes ali se
manifestarem. Ora, essa manifestação não garante uma triagem capaz
de impedir a presença de uma ou outra adúltera: o que acontecer,
penaria o arguido com uma coceira infernal ao assomar à janela.
Nessa circunstância, ele estaria condenado a não poder gritar
“fútil!, imoral!, careces de probidade moral!”, pois, como já
decretou, são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as
adúlteras. Mas, como já deu para entender, considero a sentença
inicial: estar obrigado a ser o Juiz Neto de Moura suficiente. O
arguido encontra-se inserido socialmente, e isso não é culpa dele,
mas dos seus pares; e não tem antecedentes criminais, tirando um ou
outro acórdão. Que regresse em paz aos tempos de onde veio.
Segundo exercício: tradução de
“Tower of Song”, de Leonard Cohen. Optei por traduzir com rimas
(ocorreu perda de sentido, claro, por não ser uma tradução
literal) e tentei encaixar a métrica à versão original.
Original:
Tower of Song
Well, my friends are gone and my hair is
grey
I ache in the places where I used to
play
And I'm crazy for love but I'm not
coming on
I'm just paying my rent every day in the
Tower of Song
I said to Hank Williams, how lonely does
it get?
Hank Williams hasn't answered yet
But I hear him coughing all night long
Oh, a hundred floors above me in the
Tower of Song
I was born like this, I had no choice
I was born with the gift of a golden
voice
And twenty-seven angels from the Great
Beyond
They tied me to this table right here in
the Tower of Song
So you can stick your little pins in
that voodoo doll
I'm very sorry, baby, doesn't look like
me at all
I'm standing by the window where the
light is strong
Ah, they don't let a woman kill you, not
in the Tower of Song…
Tradução:
Torre do Som
Meus amigos se vão – e eu, já
grisalho,
Vejo meus lugares arderem em cascalhos
E eu sou louco pelo amor, mas ando sem
tom
Vou pagando o aluguel todo dia na Torre
do Som
Questionei Hank Williams se a solidão
tem fim
Hank Williams não respondeu a mim
À noite ouvi sua tosse de cão
Centenas de andares sobre mim na Torre
do Som
Eu nasci assim, sem decidir nada
Mas nasci com a bênção de uma voz
dourada
E vinte e sete anjos do Outro Mundo à
mão
Ataram-me aqui nessa mesa na Torre do
Som
Então espete meu boneco vodu a gosto
Mas perdoe-me, meu bem, ele nem tem o
meu rosto
Permaneço à janela, onde a luz é um
frisson
Pois não deixam uma mulher matar você
na Torre do Som...
Amanda Vital
Muito boas soluções, Amanda. Não acha que fica melhor acrescentar um «eu» ao 1º verso da 3ª estrofe? Pelo ritmo?
ResponderEliminarSim, tem razão, professor! Fiz a edição. Obrigada!
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