domingo, 16 de fevereiro de 2020

Meus exercícios da Aula 1 - Amanda


Primeiro exercício: aplicar a pontuação ao texto de Ferreira Fernandes e criar um título. Algumas das minhas escolhas coincidem com o texto original, mas outras alteraram completamente o sentido que o autor quis exprimir a princípio. Depois de uma segunda análise, vi que alguns trechos não fazem grande sentido. Foi um exercício muito interessante de se fazer – troquei com uma colega que fez escolhas bastante distintas das minhas. Acredito que todos pudemos ver mais possibilidades para as frases a partir da percepção do outro.

Decreto

Há muitos a querer que o nosso mais recente arguido, o juiz do acórdão, tenha a sua pena agravada. Lembro que ele foi condenado em primeira instância a ser o Juiz Neto de Mora e, nessa condição, debitar acórdãos lapidares como quem apedreja sentenças bíblicas. A tese de um dos promotores de pena, ainda maior: a do humorista João Quadros ver a sua conta no Twitter. A folhas tantas é de que ele deveria ser denunciado por ganhar uma fortuna de subsídio de deslocação entre os tempos pré-históricos em que vive e os dias de hoje, distância que tem de percorrer de cada vez que atira um acórdão, outra recorrente. A feminista Maria Capaz exige que o badalado arguido venha à janela do tribunal da relação do Porto, quando ela e um grupo de sequazes ali se manifestarem. Ora, essa manifestação não garante uma triagem capaz de impedir a presença de uma ou outra adúltera: o que acontecer, penaria o arguido com uma coceira infernal ao assomar à janela. Nessa circunstância, ele estaria condenado a não poder gritar “fútil!, imoral!, careces de probidade moral!”, pois, como já decretou, são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras. Mas, como já deu para entender, considero a sentença inicial: estar obrigado a ser o Juiz Neto de Moura suficiente. O arguido encontra-se inserido socialmente, e isso não é culpa dele, mas dos seus pares; e não tem antecedentes criminais, tirando um ou outro acórdão. Que regresse em paz aos tempos de onde veio.

Segundo exercício: tradução de “Tower of Song”, de Leonard Cohen. Optei por traduzir com rimas (ocorreu perda de sentido, claro, por não ser uma tradução literal) e tentei encaixar a métrica à versão original.

Original:
Tower of Song

Well, my friends are gone and my hair is grey
I ache in the places where I used to play
And I'm crazy for love but I'm not coming on
I'm just paying my rent every day in the Tower of Song

I said to Hank Williams, how lonely does it get?
Hank Williams hasn't answered yet
But I hear him coughing all night long
Oh, a hundred floors above me in the Tower of Song

I was born like this, I had no choice
I was born with the gift of a golden voice
And twenty-seven angels from the Great Beyond
They tied me to this table right here in the Tower of Song

So you can stick your little pins in that voodoo doll
I'm very sorry, baby, doesn't look like me at all
I'm standing by the window where the light is strong
Ah, they don't let a woman kill you, not in the Tower of Song…

Tradução:
Torre do Som

Meus amigos se vão – e eu, já grisalho,
Vejo meus lugares arderem em cascalhos
E eu sou louco pelo amor, mas ando sem tom
Vou pagando o aluguel todo dia na Torre do Som

Questionei Hank Williams se a solidão tem fim
Hank Williams não respondeu a mim
À noite ouvi sua tosse de cão
Centenas de andares sobre mim na Torre do Som

Eu nasci assim, sem decidir nada
Mas nasci com a bênção de uma voz dourada
E vinte e sete anjos do Outro Mundo à mão
Ataram-me aqui nessa mesa na Torre do Som

Então espete meu boneco vodu a gosto
Mas perdoe-me, meu bem, ele nem tem o meu rosto
Permaneço à janela, onde a luz é um frisson
Pois não deixam uma mulher matar você na Torre do Som...

Amanda Vital

2 comentários:

  1. Muito boas soluções, Amanda. Não acha que fica melhor acrescentar um «eu» ao 1º verso da 3ª estrofe? Pelo ritmo?

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