Olá a todos!
Vou deixar aqui no blog o meu conto infantil para se alguém quiser me ajudar na edição, revisão, paginação e a pensar em soluções de ilustração. É um conto baseado em memórias e como discutido hoje na reunião do Zoom acredito que funcione como um dos contos de um livro de contos, destinado a um público de crianças de 7 a 13 anos falantes da Língua Portuguesa.
O Reino Distante
Luísa nasceu num lugar chamado Campos dos
Goytacazes. Nome comprido cheio de explicações. Foi lá, numa terra plana de
muitos campos, onde moravam os índios Goytacazes. Eles eram os donos da terra até o
homem branco chegar.
Luísa achava que
transformar as coisas era um superpoder.
Começou a usar seus
superpoderes para salvar gente. E a escrivaninha do seu quarto passava à
recepção de hospital. Atendia às chamadas mais urgentes, encaminhava os
pacientes para salas de cirurgia. A pequena Luísa sabia até o remédio certo
para a dor de barriga da Amanda e o corte no dedo do pé da Babi. Irmã e prima
ficavam boas rapidinho! E as três trocavam até os pelos da Dhana, uma Rough
Collie de estimação. Muito peluda, virava lobo em um segundo. Nada de latidos
dona Dhana!, dizia Luísa, enquanto levava sua cadela pra caçar vagalumes à
noitinha no seu quintal.
Por falar em quintal, lá era o seu reino mais
divertido. Fingia escola com mesa,
carteiras, quadro negro e avental. Transformava tudo em poucos segundos, nem
precisava de varinha mágica. Giz colorido! Bastava um para a menina virar
professora; os bichinhos de pelúcia, seus alunos. E no seu faz de conta, alfabetizou muita
gente.
No quintal também havia
mata fechada, com palmeira imensa e muitos outros bichinhos, todos debaixo da
terra. A temperamental menina virava paleontóloga para descobrir os fósseis
mais incríveis. Não deixava de fora da
brincadeira o quartinho de entulhos. Local para transformar bagunça em
biblioteca, esconderijo de tesouros. Toda tralha tocada por Luísa virava ouro.
Tudo podia a menina que
acreditava em seus superpoderes e no de outras pessoas.
Em Campos, tinha o
caseiro, que as pessoas chamavam de Seu Amaro. Para Luísa, Meu Amaro. Ela
descobriu que o superpoder do Meu Amaro era se transformar em uma imensa
muralha em volta da casa da avó Marlene quando todos dormiam. Que sono
tranquilo tinha Luísa quando ia passar férias de Verão lá.
Um dia, a menina percebeu
que os mais velhos eram também os mais
poderosos. Aquelas rugas engraçadas continham muito poder e foi assim que
descobriu a maior super-heroína de todos os tempos.
Ela morava em um reino
colado ao seu, no castelo da frente. Lá era como a Disneylândia. Em um piscar
de olhos, o tal castelo se enchia de toboágua, escorrega, palco para
apresentações de teatro e cantoria; a cozinha virava laboratório de
experiências artísticas e os armários eram os camarins abarrotados de roupas
para todos os cenários. A dona desse reino tinha muitos codinomes. Luísa a
chamava de vovó, potira, bruxa, mas o seu preferido era: índia velha.
A índia velha era mesmo
indígena, descendente dos Goytacazes. Filha de uma índia ainda mais velha e um homem
branco. Como quase todo brasileiro, escondia seus poderes, que eram
incontáveis: se quando Luísa caía de bicicleta ou aparecia com um corte no
braço, ela levava a menina para a cozinha, que se disfarçava de laboratório, e
lhe preparava uma poção para fechar ferida. No caldeirão, açúcar e pó de café!
Ela também curava de
outras maneiras. Às vezes, só com a força do pensamento; outras entoava
palavras ou cantos bonitos para o serviço ser feito. Ela gostava muito de
assobiar. Assobio espanta qualquer tristeza…, dizia, com olhar distante. E a
tristeza não entrava no reino.
Ela também tinha o poder
de espantar os monstros que viviam embaixo da cama de Luísa. Fazia uma pequena
oração e pronto, todos sumiam! Mas se o sono insistia em não vir, mais um poder
era acionado. Massagens nos pés de Luísa insone fazia a menina dormir em dois
segundos.
Luísa cresceu e percebeu
que o maior poder da Índia Velha era construir realidades. Ela construiu tudo
que a Luísa mais admira hoje: o lar, a família, a diversão. Ela multiplicava
sorrisos e comida. Transformava vizinhos em família e todas as pessoas em
amigos.
Mas ela não era daquelas
mulheres boazinhas, não. Na verdade, a Índia, era muito raivosa. Braba. Brigava
muito com a Luísa quando a menina andava descalça ou gastava a mesada com
chicletes. Logo a brabeza passava e vinha com ternuras sempre que chamada de
vovó. Como todo super-herói. Eles chegam para salvar o dia quando a gente mais
precisa. Era assim ela também.
Hoje, a maior super-heroína
de todos os tempos mora em um reino distante. Esse foi um poder que desenvolveu
quando suas rugas ficaram ainda maiores. Ela fez um reino mental. Lá, não se
sabe ao certo como ela vive. Se dá replay no passado, se inventa reinos
diferentes todos os dias, se consegue meditar na imensidão do nada. É o enigma.
Algumas pessoas, as adultas sem imaginação, chamam de Alzheimer.
Luísa, sua maior fã e
neta, sabe que no fundo é só mais um de seus poderes mais legais, pois, como
sabem, só a Luísa é capaz de desvendar os superpoderes das pessoas como ninguém,
pois Luísa tem superpoderes também e só quer saber onde fica o reino tão
distante.
Luísa Moura
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