quarta-feira, 22 de abril de 2020

Conto infantil


           Olá a todos!

Vou deixar aqui no blog o meu conto infantil para se alguém quiser me ajudar na edição, revisão, paginação e a pensar em soluções de ilustração. É um conto baseado em memórias e como discutido hoje na reunião do Zoom acredito que funcione como um dos contos de um livro de contos, destinado a um público de crianças de 7 a 13 anos falantes da Língua Portuguesa. 

O Reino Distante

       Luísa nasceu num lugar chamado Campos dos Goytacazes. Nome comprido cheio de explicações. Foi lá, numa terra plana de muitos campos, onde moravam os índios Goytacazes. Eles eram os donos da terra até o homem branco chegar. 
            Luísa achava que transformar as coisas era um superpoder.
Começou a usar seus superpoderes para salvar gente. E a escrivaninha do seu quarto passava à recepção de hospital. Atendia às chamadas mais urgentes, encaminhava os pacientes para salas de cirurgia. A pequena Luísa sabia até o remédio certo para a dor de barriga da Amanda e o corte no dedo do pé da Babi. Irmã e prima ficavam boas rapidinho! E as três trocavam até os pelos da Dhana, uma Rough Collie de estimação. Muito peluda, virava lobo em um segundo. Nada de latidos dona Dhana!, dizia Luísa, enquanto levava sua cadela pra caçar vagalumes à noitinha no seu quintal.
Por falar em quintal, lá era o seu reino mais divertido. Fingia escola com mesa, carteiras, quadro negro e avental. Transformava tudo em poucos segundos, nem precisava de varinha mágica. Giz colorido! Bastava um para a menina virar professora; os bichinhos de pelúcia, seus alunos.  E no seu faz de conta, alfabetizou muita gente.
No quintal também havia mata fechada, com palmeira imensa e muitos outros bichinhos, todos debaixo da terra. A temperamental menina virava paleontóloga para descobrir os fósseis mais incríveis. Não deixava de fora da brincadeira o quartinho de entulhos. Local para transformar bagunça em biblioteca, esconderijo de tesouros. Toda tralha tocada por Luísa virava ouro.
Tudo podia a menina que acreditava em seus superpoderes e no de outras pessoas.
Em Campos, tinha o caseiro, que as pessoas chamavam de Seu Amaro. Para Luísa, Meu Amaro. Ela descobriu que o superpoder do Meu Amaro era se transformar em uma imensa muralha em volta da casa da avó Marlene quando todos dormiam. Que sono tranquilo tinha Luísa quando ia passar férias de Verão lá.
Um dia, a menina percebeu que os mais velhos eram também os mais poderosos. Aquelas rugas engraçadas continham muito poder e foi assim que descobriu a maior super-heroína de todos os tempos.  
Ela morava em um reino colado ao seu, no castelo da frente. Lá era como a Disneylândia. Em um piscar de olhos, o tal castelo se enchia de toboágua, escorrega, palco para apresentações de teatro e cantoria; a cozinha virava laboratório de experiências artísticas e os armários eram os camarins abarrotados de roupas para todos os cenários. A dona desse reino tinha muitos codinomes. Luísa a chamava de vovó, potira, bruxa, mas o seu preferido era: índia velha.
A índia velha era mesmo indígena, descendente dos Goytacazes. Filha de uma índia ainda mais velha e um homem branco. Como quase todo brasileiro, escondia seus poderes, que eram incontáveis: se quando Luísa caía de bicicleta ou aparecia com um corte no braço, ela levava a menina para a cozinha, que se disfarçava de laboratório, e lhe preparava uma poção para fechar ferida. No caldeirão,  açúcar e pó de café!
Ela também curava de outras maneiras. Às vezes, só com a força do pensamento; outras entoava palavras ou cantos bonitos para o serviço ser feito. Ela gostava muito de assobiar. Assobio espanta qualquer tristeza…, dizia, com olhar distante. E a tristeza não entrava no reino.
Ela também tinha o poder de espantar os monstros que viviam embaixo da cama de Luísa. Fazia uma pequena oração e pronto, todos sumiam! Mas se o sono insistia em não vir, mais um poder era acionado. Massagens nos pés de Luísa insone fazia a menina dormir em dois segundos.
Luísa cresceu e percebeu que o maior poder da Índia Velha era construir realidades. Ela construiu tudo que a Luísa mais admira hoje: o lar, a família, a diversão. Ela multiplicava sorrisos e comida. Transformava vizinhos em família e todas as pessoas em amigos.
Mas ela não era daquelas mulheres boazinhas, não. Na verdade, a Índia, era muito raivosa. Braba. Brigava muito com a Luísa quando a menina andava descalça ou gastava a mesada com chicletes. Logo a brabeza passava e vinha com ternuras sempre que chamada de vovó. Como todo super-herói. Eles chegam para salvar o dia quando a gente mais precisa. Era assim ela também.
Hoje, a maior super-heroína de todos os tempos mora em um reino distante. Esse foi um poder que desenvolveu quando suas rugas ficaram ainda maiores. Ela fez um reino mental. Lá, não se sabe ao certo como ela vive. Se dá replay no passado, se inventa reinos diferentes todos os dias, se consegue meditar na imensidão do nada. É o enigma. Algumas pessoas, as adultas sem imaginação, chamam de Alzheimer.
Luísa, sua maior fã e neta, sabe que no fundo é só mais um de seus poderes mais legais, pois, como sabem, só a Luísa é capaz de desvendar os superpoderes das pessoas como ninguém, pois Luísa tem superpoderes também e só quer saber onde fica o reino tão distante.
Luísa Moura

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