Editar ou não editar? Muito, pouco ou nada? Para mim a resposta está
algures no meio, num cruzamento entre o compromisso e o bom senso.
O nosso cérebro tem um superpoder peculiar que lhe permite descobrir à
primeira os erros dos outros mas ignorar estoicamente os seus. Essa
particularidade pode ser uma fraqueza quando escrevemos, mas é certamente uma
força com que devemos jogar quando editamos. É bastante provável que o editor
consiga detetar falhas na escrita e na narrativa pelas quais o autor já passou
três vezes sem as identificar. Isso não deve ser desperdiçado, nem pelo editor
nem pelo próprio autor.
Existe, porém, um momento em que se vai longe demais. Essa linha não será
igual para todos os casos, mas, se o escritor deixa de reconhecer o seu próprio
texto, então ela já foi definitivamente ultrapassada. Ao ler os artigos sobre
Gordon Lish, o que mais me chocou foi descobrir que o editor alterava até os
nomes das personagens de Raymond Carver. Aqui existe já uma imposição que não é
aceitável e que demonstra um sentimento de posse sobre o texto – é uma maneira
de se mostrar quem manda. É provavelmente a altura, se essa não tiver passado
já, em que as alterações se tornam gratuitas.
Acima de tudo, para mim, as condições da edição devem estar previamente
acordadas entre o editor e o autor. O autor deve poder confiar no editor no
momento em que lhe passa o seu livro para as mãos. Humildade e bom senso – devem
ser essas as especiarias que temperam a edição.
Inês Rebelo
Sem comentários:
Enviar um comentário