É aproximar-se de uma obra com a intenção de não gostar dela. Diz o provérbio: o livro do satisfeito morreu na gaveta.
O autor é o primeiro a ler e editar, com naturais limitações: é incapaz de distanciar-se até o ponto estranho à obra. Só que a escrita, enquanto produto, inexiste se não conversa com o outro.
Entra o editor.
Perguntas. Como? Onde? Por quê? Quem? E o bom texto é o boxeador resiliente: qualifica-se não pela velocidade ou pelo impacto dos punhos, mas pela capacidade de sorrir honestamente após perder alguns dentes.
Se acontecer do juiz levantar a mão do pugilista frente ao público, talvez o bom editor seja um par de palmas na multidão. O autor? Nos casos históricos, funde-se ao campeão, podendo ofuscá-lo. Com mais frequência, é o perdedor espirituoso do outro lado do ringue.
É fácil perceber indícios do fim: as respostas do autor chegam com tom de ponto final. Antes disso, a dupla busca a insatisfação, até ser impossível os dois não amarem a obra, cada um com os seus motivos. Até ser impossível o público, mesmo cético, ignorá-la.
Leonardo Lacerda
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