quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Relato de um lançamento

Lisboa, 12 de outubro de 2019

Participei por acaso do lançamento de O terrorista elegante e outras histórias, escrito a quatro mãos por José Eduardo Agualusa e Mia Couto. 
Curiosamente, o título do livro se conectava, grosso modo, com minha vivência de moradora do Oriente Médio. Também grosseiro era meu conhecimento sobre os escritores: não ia muito além de uma troca de olhares com Mia Couto num aeroporto e da certeza de estar pela primeira vez diante de Angalusa. Pois. 
Entrei na Fnac do Chiado para ver o preço de um eletrônico e deparei com o editor do livro, Francisco José Viegas, abrindo o evento. Pelas palavras da mediadora da mesa, que não pode comparecer, “os escritores que dispensam apresentação” foram apresentados. 
A essa altura, já estava claro que perguntar do que trata o livro nesse tipo de evento é deixar seu autor sem resposta. Melhor dito, por ambos: no lançamento, o autor ainda não sabe responder. Contudo, alguns elementos em torno dos quais este havia sido concebido seriam ali mencionados: a profunda amizade entre o angolano e o moçambicano, a sombra do alpendre de colmo, que aliviou o calor dos dois em pleno ofício, e a adaptação para novela de textos originalmente escritos para teatro.
A timidez de uma sala sem cadeiras vazias exigiu do editor o exercício de um dos seus possíveis papéis: o de provocador sensato. “Como cada um define a sua escrita e como elas se relacionaram nessa obra coletiva?” – Falar de forma parece mesmo ser, por excelência, o assunto de editores de literatura. 
Ao público interessou mais debater questões políticas, biologia e história. Aos escritores, em determinado momento, já não interessava prolongar a conversa, pois estavam cansados da maratona de lançamentos. 
Ainda houve tempo para elogiar uma livraria concorrente, num dos vários momentos descontraídos do evento.
Entrei na fila para receber a dedicatória dos escritores. Apresentei-me a Agualusa como “a brasileira de Tel Aviv”, que me retribuiu com sua “amizade”, e saí com o “beijo” e a sensação de que o olhar de Mia também me reconheceu, apesar de não nos conhecermos. 
Dois profissionais da escrita (e de lançamentos de livros) que dominam a técnica de aproximar-se do público com sensibilidade e bom humor, e uma estreante nesse tipo de evento, que preferiu a cultura ao consumo tecnológico.


Contracapa


1 comentário:

  1. Um ponto importante: são autores experientes e bem-sucedidos, e a Renata agarrou bem esse lado. O editor por acaso também é autor e conhece ambos há muito tempo. A sensação de «rotina blasé» ajuda ou desajuda? (Por um lado, um autor tem de ser 'próximo', por outro lado uma certa 'distância' faz parte do charme.

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