Abaixo apresento cinco livros cujas capas se destacaram para mim, por bons e maus motivos.
A primeira é a deste livro do Adam Kay, Twas the nightshift before Christmas. Acho uma capa muito engraçada; o saco em forma de meia de Natal, com o sangue a dar o apropriado tom de vermelho, junto com o título (que acho brilhante, pela sua simplicidade), diz-nos imediatamente três coisas: que a narrativa se passa na véspera de Natal, no hospital, e que irá ter uma boa componente de humor. Embora prefira habitualmente capas mais simples, mais clean, esta chamou-me imediatamente a atenção e levou-me a ir ver a contracapa do livro e a folheá-lo – e, consequentemente, a comprá-lo. Por estes motivos, acho que esta é definitivamente uma boa capa.
A seguinte capa é muito inteligente, por ser extremamente simples mas eficaz em igual medida. Em primeiro lugar, chama a atenção, porque não estamos habituados a ver uma capa toda branca e temos de nos chegar perto para perceber o que nela está escrito; em segundo lugar, porque a própria capa transmite a principal característica dos introvertidos, as pessoas quiet, de quem o livro pretende falar: a de conseguirem passar despercebidos, quase se confundindo com o "fundo". Assim, é uma capa que, não sendo única, é bastante original e resulta.
Segue-se agora uma capa de que não gostei – e que me deixou, até, um pouco aborrecida. A capa desta edição de A morte de Ivan Ilitch tem o problema de ter como elemento central – como único elemento, na realidade – um objeto que nada tem que ver com a história (talvez tenha, mas apenas num plano muito metafísico). Este elemento, a navalha, é tão forte que acaba por condicionar toda a leitura, sobretudo por à primeira vista estabelecer uma relação muito óbvia com o título. Assim, o leitor cria logo à partida a expectativa de que a navalha irá desempenhar um papel na anunciada morte de Ivan Ilitch, e inicia a leitura interpretando a narrativa de acordo com aquilo que julga saber, e na verdade não sabe.
Sendo verdade que a capa não nos deve indicar toda o enredo do livro, e muito menos o seu final, para mim é verdade também que não deve apontar para uma intriga ou um final que não se verifica de todo. Nessa medida, acho esta uma má capa por ser totalmente desadequada em relação à história – parece até um dos casos em que a capa é desenhada sem que o seu autor tenha lido primeiro o livro.
Sendo verdade que a capa não nos deve indicar toda o enredo do livro, e muito menos o seu final, para mim é verdade também que não deve apontar para uma intriga ou um final que não se verifica de todo. Nessa medida, acho esta uma má capa por ser totalmente desadequada em relação à história – parece até um dos casos em que a capa é desenhada sem que o seu autor tenha lido primeiro o livro.
Esta é uma das minhas capas preferidas. É muito elegante, abraça o título de uma forma muito natural e estabelece com ele uma relação direta mas não demasiado óbvia, ao apresentar os cabos dos guarda-chuvas mas não os topos. Além disso, a partir da cor e dos ornamentos dos cabos, a capa remete-nos subtil mas eficientemente para o Oriente, que é o espaço da narrativa.
Esta série da Companhia das Letras, que inclui, entre outros, os livros do Afonso Cruz e do João Tordo, caracteriza-se habitualmente por esta elegância (até nas lombadas, que é um gosto ver na estante, fazendo, por isso, quase um efeito de colecção); razão pela qual fiquei particularmente "desgostosa" com a capa que se segue.
Esta capa, na minha opinião, não possui nada da beleza que costuma ser regra nos livros do João Tordo, nomeadamente nos que são publicados pela Companhia das Letras. Penso que é a doença dos thrillers – e, devo acrescentar, mesmo entre os thrillers considero haver capas mais artísticas ou, pelo menos, mais bem-conseguidas. Embora queira muito ler o livro (não deixaria de o querer apenas pela forma como vem embrulhado), tenho pena de que a capa seja plastificada em vez de papel, das letras brancas garrafais, da fotografia (que talvez resultasse melhor se não fosse o desenho da letra) e, acima de tudo, como se o design da capa não o gritasse já, da legenda THRILLER, em baixo.
Acho que existe aqui uma tentativa de apelar a um novo público, um forte medo de que as pessoas não reparem que é um thriller, de que este livro não se destaque dos restantes do João Tordo – como se o habitual público de João Tordo não fosse ler um thriller e quem lê habitualmente thrillers não lesse João Tordo. Mas penso que acaba por ser quase uma situação em que, como dizia o Chip Kidd na Ted Talk, se desenha uma maçã e se escreve "maçã" por baixo.
Acho que existe aqui uma tentativa de apelar a um novo público, um forte medo de que as pessoas não reparem que é um thriller, de que este livro não se destaque dos restantes do João Tordo – como se o habitual público de João Tordo não fosse ler um thriller e quem lê habitualmente thrillers não lesse João Tordo. Mas penso que acaba por ser quase uma situação em que, como dizia o Chip Kidd na Ted Talk, se desenha uma maçã e se escreve "maçã" por baixo.
Inês Rebelo
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