quinta-feira, 5 de março de 2020

De Pierre a Tomás

Com base nas traduções de poesia que temos visto nas últimas aulas pensei que talvez fosse interessante partilhar uma tradução que fiz durante a minha licenciatura: Pierre: A Cautionary Tale in Five Chapters and a Prologue. Pierre é um conto para crianças escrito por Maurice Sendak, podem ouvir o original aqui. A tradução que apresentei na altura foi a seguinte:

Prólogo 

Era uma vez um rapaz 
Chamado Tomás 
Que dizia apenas 
“Tanto me faz!” 
Lê a sua história, 
Meu amigo, 
E descobrirás 
Que, no seu fim, 
Uma boa moral 
Encontrarás. 

Capítulo 1 

Um dia 
A sua mãe disse, 
Quando Tomás  
Saiu da cama,  
“Bom dia, 
Querido rapaz, 
És o único  
Que me apraz.” 
Tomás disse, 
“Tanto me faz!” 

“O que queres  
Tu comer?” 
“Tanto me faz!” 
“Podes ter tudo 
O que te apetecer.” 
“Tanto me faz!” 
“Não te sentes 
Para trás.” 
“Tanto me faz!” 
“Não deites xarope 
No cabelo, Tomás!” 
“Tanto me faz!” 

“Estás a portar-te 
Como um louco.” 
“Tanto me faz!” 
“Temos que sair 
Daqui a pouco.” 
“Tanto me faz!” 
“Não queres vir, 
Meu amor?” 
“Tanto me faz!” 
“Preferes ficar 
Enrolado no cobertor?” 
“Tanto me faz!” 
Então a sua mãe 
Deixou-o além. 

Capítulo 2 

O seu pai disse-lhe, 
“Tira a cabeça 
Dessa cadeira 
Ou penduro-te 
Na chapeleira.”  
Tomás disse, 
“Tanto me faz!” 
“Pensava que 
Conseguias ver…” 
“Tanto me faz!” 
“Que tens a cabeça 
Onde os pés devias ter!” 
“Tanto me faz!” 

“Se continuas  
Virado ao contrário..” 
“Tanto me faz!” 
“Não recebes prendas 
No teu aniversário.” 
“Tanto me faz!” 
“Quem me dera 
Que pudesses entender.” 
“Tanto me faz!” 
“Não gosto nada 
De me aborrecer.” 
“Tanto me faz!” 

Então os seus pais 
Deixaram-no ficar. 
E não o levaram 
A brincar. 

Capítulo 3 

Agora, enquanto  
A noite vinha, 
Um leão esfomeado 
Apareceu na cozinha. 
E perguntou a Tomás,  
Sem o conhecer, 
Se gostaria de morrer. 
Tomás disse-lhe, 
“Tanto me faz!” 

“Não vês que te 
Posso comer?” 
“Tanto me faz!” 
“E que dentro de mim 
Te irás contorcer?” 
“Tanto me faz!” 
“E nunca mais  
Terás que te preocupar…” 
“Tanto me faz!” 
“Com um pai ou uma mãe 
Para te chatear.” 
“Tanto me faz!” 

“É só isso que 
Tens a dizer?” 
“Tanto me faz!” 
“Então, se não te importas, 
Vou-te comer.” 
“Tanto me faz!” 

E então o leão 
Comeu Tomás. 

Capítulo 4 

Ao chegar a casa 
Ao fim da tarde, 
Os seus pais foram tomados 
Por uma grande ansiedade! 
Encontraram o leão 
Doente na cama, 
Que chorava e gritava 
Que Tomás morto estava. 

Puxaram o leão 
Pelo cabelo 
E com uma cadeira 
Bateram-lhe no pelo. 
A sua mãe perguntou, 
“Onde está Tomás?” 
O leão respondeu, 
“Tanto me faz!” 
O seu pai disse, 
“Dentro dele está Tomás!” 


Capítulo 5 

Levaram para a cidade 
O malvado leão. 
E o médico deu-lhe 
Um  grande abanão. 
E quando o leão abriu 
A sua enorme boca, 
Tomás no chão caiu. 
Esfregou os olhos 
E a sua cabeça coçou 
E riu-se
Porque desta se safou. 
A sua mãe chorou, 
E abraçou-o bem perto. 
O seu pai perguntou, 
“Estás bem, certo?” 
Tomás disse, “Estou bem, tenho que admitir, 
Levem-me para casa, 
Está na hora de dormir.” 
O leão disse,  
“Se te satisfaz 
Sobe as minhas costas 
E senta-te, rapaz.” 
Olharam todos  
Para Tomás 
Que gritou, 
“Sim, satisfaz!” 

O leão levou-os até casa, 
Tão animado, 
E ficou com eles 
Como convidado. 


Hoje talvez fizesse a tradução de forma diferente mas, tal como a poesia, contos infantis podem apresentar muitas dificuldades ao tentar manter a rima e o sentido. Caso queiram, e tenham algum tempo, achei que este pudesse ser um bom ponto de partida para treinarem também as vossas revisões e traduções.

- Ana Lopes

2 comentários:

  1. Ainda só consegui traduzir parte do audio mas o que tenho é assim:

    Prólogo

    Era uma vez um rapaz
    Chamado Olivier
    Que apenas dizia
    “Não quero saber!”

    Lê esta história, meu amigo
    E irás descobrir
    Que uma lição
    Irá surgir

    Capitulo 1

    Um dia, a mãe disse
    Quando ele se levantou
    “Bom dia, meu querido menino
    Tu és o meu único regozijo!”
    Olivier murmurou,
    “Não quero saber…”

    “O que gostarias
    De comer?”
    “Não quero saber!”
    “Que tal um delicioso creme de trigo
    Para a tua fome conter?”
    “Não quero saber!”

    “Não te sentes de costas, Olivier”
    “Não quero saber!”
    “Nem metas calda no teu cabelo, Olivier!”
    “Não quero saber!”
    “Estás a portar-te tão mal!”
    “Não quero saber!”
    “Temos de ir à vila local.”
    “Não quero saber!”
    “Não queres vir, meu querido?”
    “Não quero saber!”
    “Preferes ficar no nosso abrigo?”
    “Não quero saber!”

    Então a mãe a sua vontade deixou ter.

    ---------------------------------------

    Manter as rimas é deveras complicado de forma a não soar ou "forçado", ou a fugir da essência do original.

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  2. Esse é sempre o dilema: traduzir som ou conteúdo? «Vila local» soa estranho. Por vezes, a solução é alterar a primeira rima - ou esquecer e apostar tudo na seguinte. :)

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