Há dias participei num debate online sobre a vida do livro, onde estavam um editor que estimo mas do qual habitualmente (e amigavelmente) discordo, Manuel S. Fonseca, da Guerra e Paz, e a co-organizadora de um dos mais importantes e longevos festivais portugueses: o Fantasporto, dedicado ao cinema fantástico, Beatriz Pacheco Pereira. (Sim, irmã do tribuno, o mundo é pequeno.)
Também entrou mais tarde Paulo Rebelo Gonçalves, responsável pela comunicação do grupo Porto Editora (um dos dois mais poderosos do mercado, o outro é a Leya).
A dada altura Beatriz queixava-se da dificuldade em encontrar um editor, e da colocação dos seus livros, e atribuía culpas aos editores. Por seu lado, Manuel S. Fonseca exigia uma mudança de paradigma nos apoios (a edição é uma das muitas vítimas do Covid), enquanto Paulo recusava qualquer comissão do Livro Bom - apesar de todos reconhecerem a importância do Plano Nacional de Leitura. (Eu por acaso concordo com a importância do Plano mas acho que a falta de recursos - desde logo, de gente para ler - o diminuem.)
As queixas interessam-me, porque é - tanto de autores como de editores - uma queixa que desresponsabiliza o próprio e responsabiliza outros. Presume que «eu» estou a fazer bem o meu trabalho, «os outros» é que não.
Ora, hoje em dia, com tanto livro publicado - muitos serão maus ou muito mais, mas bastantes serão bons ou muito bons - a dificuldade na edição passou da manufactura para a promoção. Isso é visível, infelizmente, no foco de investimento, por vezes, com um descurar o texto e do trabalho sobre o texto.
Muita gente não percebe uma coisa: aquilo que tomam por lucro tem de pagar o trabalho de muita gente. Nos 40% que o editor realmente receberá do livro estarão incluídas muitas despesas: de porte, paginação, design, revisão, edição, impressão, negociação de contrato, exemplares para promoção, telefonemas, mails, água, luz etc.
A verdade é que se publicam mais livros do que há leitores - para haver uma quantidade de leitores-compradores que pelo menos assegurem o retorno do investimento, mesmo com lucro zero.
E outra verdade é também esta: desde quando um autor - só por ser autor - tem direito decretado por uma qualquer Lei Divina a ter leitores?
E uma terceira verdade: muitos autores escrevem livros que, pela forma ou pelo conteúdo, nunca leriam se fossem escritos por outros. Reclamamos uma atenção da parte dos outros que não damos nem daríamos.
Um exemplo caricatural é a poesia: tanto poeta que pede atenção, mas acha os contemporâneos todos «uns chatos».
Com um editor é o mesmo: nem sempre pondera bem o eventual interesse que o livro que publica terá.
Dito isto, e já é um intróito longo, fica o desafio #17 (sempre a fazer apenas como jogo): como captar a atenção do leitor»? Consegue conceber algumas estratégias?
[Nota: a pergunta pode ter armadilhas... Uma dica: há ideias gerais, mas os livros são concretos - e cada um é um prototipo, isto é, peça única, mesmo quando é de um mesmo autor.]
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ResponderEliminarSempre acreditei no livro enquanto produto em si, na “embalagem”, digamos assim. Uma boa capa, com bons acabamentos, um texto de capa interessante, um título que desperte a curiosidade. No meio do mar de livros das livrarias, chama-me atenção o produto bem-acabado, que grita aos olhos do leitor. Esse é um ponto. Acho que os editores no geral focam muito em quem gosta de ler e se esquecem de quem não gosta, mas pode dar um livro de presente. Estes últimos não agregam o valor afetivo ao objeto livro, mas optam pelo melhor produto entre uma gama de publicações similares. Para estes, acho que a importância da "embalagem" é ainda mais fundamental. Nesse contexto entra o trabalho de divulgação junto aos livreiros e a posição das pilhas do livro na livraria.
ResponderEliminarO outro ponto tem a ver com a mudança nos modos tradicionais de se fazer marketing de livro. As redes sociais ainda são ferramentas recentes nesse mercado, e acho que há muito ainda a ser explorado nesse sentido. Não adianta jogar o livro no mar da livraria e não fazê-lo chegar ao nicho a que pertence. Nesse ponto, é importante nos perguntarmos: a quem este livro interessa? Como direcionar minha comunicação a este público? Procurar parceiros e influenciadores nas redes sociais pode ser uma possibilidade para um determinado tipo de público, por exemplo. Já vi livros venderem bastante apenas na base da recomendação e do boca a boca virtual. Quando eu ainda trabalhava em editora percebia mesmo a grande dificuldade que era para o marketing encontrar esse nicho: fazia-se muito bem o básico para autores já renomados, livros que tinham certo sucesso garantido, mas alguns títulos que tinham vendido bem no exterior e eram considerados apostas muitas vezes ficavam encalhados porque seu público-alvo simplesmente desconhecia sua existência.
Considerando aspetos mais superficiais, creio que uma capa com cores que se destaquem ou então que seja tão simbólica ao ponto de que, depois de capturar o olhar de um possível leitor, despertar o interesse de quem a mire. Aqui creio também que o título tem um papel relativamente importante pois ao ser analisado juntamente com a capa pode atrair ainda mais um possível leitor. Outro aspeto que considero relevante é a sinopse. Creio que deve ser simples, fácil de ler e, se possível, conter o máximo de enredo aceitável mas apenas o suficiente para manter o mistério e deixar o futuro leitor com curiosidade.
ResponderEliminarQuanto ao livro em si, i.e., o seu conteúdo, o autor tem de ter certeza do que está a fazer e saber que público(s) quer agradar para então, juntamente com a editora, saber como apelar para a venda do mesmo. Marketing sempre foi importante para vender um produto e mesmo com a internet, hoje em dia parece que não é tirado proveito disso, principalmente com livros. Hoje em dia é relativamente fácil meter um determinado público a falar de determinados assuntos/produtos e a chave está mesmo em saber o que esse produto é e para quem é. Dessa forma é sempre um pouco mais fácil para se conseguir apelar para o público-alvoe, se tudo correr bem, se conseguir de certa forma "viralizar" a conversa de modo a chegar ao máximo de possíveis leitores.