A bibliodiversidade é um tópico complicado, uma
vez que possui diferentes pontos de vista opostos e, por sua vez, aceitáveis. Do meu ponto de vista, a bibliodiversidade pode ser
considerada fruto da preguiça do sistema. Cada vez existem mais pessoas a
escrever e a querer publicar os seus livros e cada vez existem menos pessoas a
ler e a comprar livros. Desta forma, é possível considerar que as editoras cada
vez recebem mais manuscritos, no entanto, recebem cada vez menos dinheiro para
os publicar.
Ora, este fenómeno instiga a autopublicação —
processo que permite aos jovens autores concretizarem o seu sonho e às editoras
ganharem dinheiro sem fazerem grande coisa a não ser colocar o seu nome nesses
livros e permitir a distribuição em grandes superfícies onde permanecerão
ocultados na enchente de livros disponíveis ou na caixa da qual nunca sairão
sequer. A autopublicação cria um problema da bibliodiversidade excessiva e
desproporcionada, uma vez que já não ocorre uma seleção criteriosa dos livros a
publicar. Todos são autores e todos têm livros publicados.
Temos romances e thrillers invisíveis que
pouco vendem e temos livros de conversas de Whatsapp de youtubers, bem como
livros intitulados Tudo o que os homens sabem sobre as mulheres com 128
páginas em branco a vender centenas e até milhares. Agora pergunto, serão esses
livros necessários, produtivos, geniais? Talvez, afinal de contas, satisfazem a
mente de jovens ocos e criticam a dificuldade que os homens têm em perceber as
mulheres como se o problema fosse inteiramente do sexo feminino.
Talvez o problema consista apenas em satisfazer
a mente das pessoas que procuram a Grande Literatura. Passo horas numa livraria
por duas razões: há demasiado por onde escolher e, simultaneamente, há muito
pouco que me agrade. Às vezes, os milhares de livros disponíveis dão-me vontade
de fugir dali. É demasiado por onde escolher e acredito piedosamente que uma
seleção criteriosa dos livros a publicar só iria beneficiar o mercado
literário. Afinal de contas, é mais fácil conseguir vender um livro no meio de
cem do que um livro no meio de mil.
Contudo, entendo que as dificuldades
económicas levem os vendedores a pensar que é melhor ter tudo do que não ter
nada. Não é uma caraterística que apenas se aplica ao mercado editorial, mas a
qualquer negócio em dificuldade. Existe tanta concorrência e tanto produto que
as pessoas se perdem entre o querer tudo e o não ter nada. E, nós, como
comerciantes, só queremos agradar o público, porque, por muito que queiramos
publicar arte, ainda é necessário ganhar a vida de alguma forma.
O pensamento mudou de “Isto é o que gostamos,
é isto que vamos dar aos leitores” para “Será que eles preferem branco ou
preto? Talvez seja melhor pôr em todas as cores”. A bibliodiversidade é uma
faca de dois gumes, uma vez que é o que permite ao mercado literário ganhar dinheiro
e, ao mesmo tempo, perdê-lo.
Márcia Filipa
Sem comentários:
Enviar um comentário