quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O livro: peça da Bershka ou obra de museu?


Os livros serão sempre parte integrante de um lar, quer para servir o seu verdadeiro propósito, quer para acender a fogueira e aquecer os seus ocupantes. Todavia, creio que os amantes literários, nomeadamente dos livros em papel, nunca entrarão em extinção, embora os livros digitais continuem a ganhar um relevo substancial nos próximos anos e, possivelmente, séculos.
Os livros, como qualquer objeto, podem desempenhar vários papéis. Podem ocupar as estantes num papel meramente decorativo e ilusão de aparente erudição; podem desempenhar a sua verdadeira função ao ser lidos e folheados; podem ser guardados ou revendidos; podem literalmente ir parar à fogueira num dia em que haja pouca lenha ou falta de jornal.
Ninguém sabe o que o futuro reserva ao livro, no entanto, existem dois polos de opinião completamente discordantes e válidos: o livro continuará a sua expansão descomedida ou transformar-se-á numa raridade e possível objeto de coleção.
Se a produção literária continuar a um ritmo alucinante, será cada vez mais difícil ver o livro como uma peça de arte em detrimento de um produto facilmente consumível e com uma enorme variedade disponível, tão básico e comum como uma peça de roupa da Bershka e, como todos sabem, uma peça de roupa da Bershka não traz prestígio a ninguém — no máximo, acontece o oposto.
Se os leitores optarem cada vez mais pela leitura digital, o livro perderá o seu conceito original e as peças físicas tornar-se-ão raridades e objetos de prestígio, uma vez que ter um livro em casa poderá ser algo obsoleto e, em simultâneo, magnífico, como uma peça de arte perdida num museu. Em ambos os casos, a sua integridade está salvaguardada e a sua permanência nas nossas casas também — quer como objeto descartável, quer como objeto de prestígio.

Márcia Filipa

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