A verificação de factos explica-se por si mesma: verificar se os factos contados são fundados. A revista New Yorker sempre se orgulhou dos seus Fact Checkers: assim se constrói uma reputação de seriedade. Há outras formas, como a usada pela CNN e tornada padrão - locutores com «ar honesto» - mas esta, não sendo a mais eficaz, é a mais escrupulosa: evitar fazer afirmações infundadas e verificar datas, nomes, citações, etc. E evitar apropriarmo-nos do produto do suor alheio.
No Brasil, há a profissão de pesquisador mesmo para programas de entretenimento como novelas televisivas. Uma ficção, mesmo quando por natureza pode fugir aos factos, ganha também em não cometer muitos erros de fundo.
No entanto, é fácil passar factos errados sem que nem mesmo editores e fact-checkers respeitados dêem conta. É hoje o pão nosso de cada dia nas redes sociais, mas também já em jornais de referência. Um caso famoso foi o de Claas Relotius, uma estrela da mais respeitada revista alemã, a Spiegel.
Num artigo ou num trabalho académico o plágio ou a falsificação de provas também não é incomum. E por que haveria de ser? Desde quando uma profissão purifica (por toque mágico) todos os que a praticam?
Não há grandes armas contra o plágio e a falsificação de dados ou outro tipo de distorções e, geralmente, o crime compensa. Até ao dia em que somos apanhados.
Nos Estados Unidos, tinham um problema de excessivas mortes na estrada - e não tinham suficientes patrulhas. Resolveram o assunto aplicando uma regra simples: até pode haver fortes probabilidades de nos safarmos, mas se formos apanhados a pena é aplicada logo e de forma severa.
O plágio académico está em expansão e pode haver até carreiras construídas sobre ele. Mas, quando a pessoa é apanhada, alguma sanção deve receber. Na sua reputação, perdendo pontos, etc.
O lado chato do perder a reputação é que depende de quem fez a asneira. Bem ou mal, a sociedade portuguesa é bastante tolerante com o pecadilho, desde que seja cometido por um dos nossos. A mim custa ver a queda em desgraça de Clara Pinto Correia, por não lhe ter sido perdoado o que a outros mereceu apenas um encolher de ombros. Mas Clara tinha pisado muitos calos, irritado muita gente - e a sua queda foi motivo de júbilo, da parte dos que durante décadas tinham assistido à sua ascensão.
A ferida na reputação tem outro lado incómodo: por vezes fica para sempre ou, pelo menos, durante bastante tempo. Ao contrário de crimes piores - roubo, extorsão ou mesmo assassínio - não tem um termo no tempo. E eu sou contra as condenações sem prazo - sou contra a pena de morte, a real, sobretudo, mas também as simbólicas.
Em relação aos trabalhos, eu gosto da solução americana: uma punição simples, imediata, que desencoraje as contas de merceeiro entre risco e benefício. Com sorte, nem eu nem os meus colegas apanhamos a infracção. Mas, se apanharmos...
Uma resposta que não seja para a vida, apenas seja aplicada de forma firme no momento.
Recentemente, a editora Antígona acusou a Clube do Autor de estar a infringir os seus direitos exclusivos para Portugal, ao avançar já com uma edição de 1984 de George Orwell. Os direitos só se tornam públicos em janeiro 2021. Até aqui tudo bem. O problema é que um investigador, João Pedro George, foi desencantar uma entrevista do editor da Antígona, de há muitos anos, a dizer que fazia edições pirata e e a gabar-se de ser «um rebelde». O pecado aqui é, segundo George, o de hipocrisia.
Nomes estrangeiros - verificar sempre.
Fotos - verificar sempre.
Datas - verificar sempre.
Citações - verificar sempre que possível. Se uma frase está entre aspas, é ipsis verbis. Mas colocarmos uma afirmação alheia por palavras nossas não a torna nossa.
A Wikipédia e a Internet têm a vantagem de ser rápidas. Mas essa mesma conveniência torna-as fontes falíveis e pouco fiáveis, como uma password baseada em aniversários ou nomes dos gatos.
Sempre que possível, cruzar informação. Mas nem isso chega, dado que hoje em dia acontece o mesmo que nos relatos de viagem de há séculos: um erro aparecia confirmado em diferentes volumes. Por vezes, esse mesmo erro era o que denunciava o plágio - mas só quando se descobria que era erro, o que podia levar muito tempo.
Uma das estratégias mais óbvias hoje em dia dessa nova profissão que é a de Fact Maker, fazedor de factos, é o de pôr várias «fontes» a «confirmar» uma notícia falsa.
Por isso, mais do que nunca - mesmo que isso nos impeça de escrevermos reportagens de capa para a Spiegel - é importante ter boas práticas.
Em princípio, o Livro de Estilo cumpria isso. Em Portugal (como ouviremos da boca do João Morales, no dia 27) era por vezes um livro humano e, tanto quanto sei, só o Público editou um, ainda hoje acessível a quem o quiser comprar. Também podem consultar aqui o da Agência Lusa.
No geral, seria sobretudo um modelo de normas de escrita (New Jersey ou Nova Jérsia, etc.) mas acaba sendo muito mais.
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