Resumindo: da pandemia não sabemos, mas o nosso espírito está de momento menos pressionado.
Um editor é também um pouco psicólogo. Não um que trata as pessoas, mas que intui (antecipa até) os interesses delas. Quando faz um plano editorial para 2021-2022, está a ser um bocadinho psicólogo, bruxo, sociólogo, político, religioso. Pode não saber o que vai acontecer, mas tem de fazer uma aposta. E essa aposta deve ser o mais possível informada - 1/2 com dados da GfK, por exemplo, leitura das revistas da especialidade, congressos, revistas onde outros especialistas indicam as tendêncis da moda; 1/2 com a sua própria intuição educada pela experiência.
Até uma criança de dez anos é - sem o saber - especialista em casos amorosos, porque viu e leu desde pequena histórias de amor, de casamentos, de rivalidades, de perda, de príncipes e princesas, ogres e bruxas.
Como observou Sócrates, só sei que nada sei - certo. Mas também sei bastante mais do que julgo que sei.
Entrámos agora - pelo menos durante os próximos dias - noutro patamar. Não mais o pico que nos suscitava «sonhos inquietantes», como a Gregor Samsa em A Metamorfose, mas um momento de acalmia. A pressão baixou. Não mais a parte montanhosa, mas uma lenta (e esperamos que duradoura) descida à planície.
(Obviamente, o contágio continua - e provavelmente continuará - num planalto, não numa planície.)
Talvez então possamos acordar da modorra - o nosso dever durante estas seis semanas foi manter a calma e evitar ir ao hospital - e começar a pensar em prazos.
Um prazo razoável para o trabalho final será a primeira quinzena de junho. Se não conseguirem prolongaremos mais uma semana. E outra. E outra. De momento, vamos ser flexíveis. A grande qualidade de um editor é ser flexível.
(Nota: não é «a grande», mas é uma das melhores.)
Fazer planos é bom: é meio caminho para o sucesso. Mas é bom saber que eles falham. E também saber que, quando falham, até pode nem ser uma má ideia porque encontrámos uma coisa melhor.
Como diria Mário-Henrique Leiria, lembrado pela Margarida, «Se a vida te dá limões não faças limonada: faz contos do gin tonic.»
Melhoria:
Sensata, a FCSH decidiu não cobrar exames de melhoria. Atenção: podem ter de se inscrever à mesma.
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