quinta-feira, 30 de abril de 2020

Velhos livreiros e alfarrabistas

Ao ler online a crónica do Miguel Esteves Cardoso (Independente, revista Kapa, o cronista mais popular nos anos 80, hoje uma lenda) no Público ele falou com entusiasmo do trailer do documentário abaixo. E fui vê-lo e, agora, devolvê-lo, ou passá-lo para a vossa mão.



O passa-palavra continua a ser uma das formas mais eficientes de transmitir informação. Neste caso, foi uma figura com voz pública. O sucesso nunca se sabe, mas alguém lê e alguém vai ver. Há umas semanas li que ia sair nos Estados Unidos a autobiografia do Woody Allen e, não podendo ir a Nova Iorque por causa da quarentena, peguei no meu telemóvel e descarreguei o livro, que li num punhado de noites.

Cheguei a Cortázar e Borges porque o meu amigo Miguel foi visitar uma amiga a Barcelona, e veio de lá (circa 1978) com alguns livros em espanhol que depois circularam, quais samizdat, pelo nosso círculo.

A Italo Calvino cheguei porque li uma nota de cinco linhas no jornal. Tinha acabado de ser publicado em França o novo livro daquele que era «considerado um mago da literatura». Na altura, os jornais portugueses davam notícias do mercado livreiro de França, como hoje fazem do anglo-saxónico. Eu fiquei intrigado e, em Paris, fui à FNAC perto do Centro Pompidou à procura. Encontrei-o mas custava 125 francos, uma fortuna. Li-o à mesma, e em poucos meses tinha devorado tudo o que havia à mão de Calvino. Foi como descobrir um novo planeta. 

A outros livros cheguei porque o meu tio os tinha à mão. Assim descobri Saul Bellow, John Updike, Truman Capote (mestre estilista), e o entretenimento supremo dos policiais de Robert B. Parker e das coboiadas do virtuoso Elmore Leonard.

Lisboa ainda hoje tem dezenas de alfarrabistas, mas muitos já fecharam. Ainda assim, é todo um mundo paralelo, um labirinto subterrâneo, por assim dizer. 

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