Sumário: um presente, um pedido de desculpas, uma memória - e uma gravação
4. Gravei 13 minutos de palestra
Topic: My Meeting
Start Time : Jun 10, 2020 06:19 PM
Meeting Recording:
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3. Pedido de desculpas
Lapso freudiano: quando cometemos um erro que o nosso suconsciente queria mesmo cometer. Por outras palavras, para «nós» foi um erro, mas para o nosso subconsciente foi a decisão mais acertada.
Hoje era/é o feriado mais importante em Portugal. O patriota-primário-que-há-em-mim não deve ter gostado que hoje houvesse aula e fez com que não houvesse mesmo.
Como das outras vezes eu tinha estado sempre atento a esse pormenor do AM e PM, só tardiamente me ocorreu que fosse isso. Agora, graças à Amanda, já sei a razão.
Obviamente, peço desculpa. E lembro o ditado: Deus está nos menores. Pelos vistos, o diabo também.
2. Uma memória
Esta falha trouxe-me à memória o último dia em que tivemos aula presencial mesmo - cheguei atrasado porque trazia uma mala e cometi o erro de apanhar um táxi, o que nunca faço, e de ir pela Rua Defensores de Chaves, habitualmente o melhor caminho mas em Fevereiro estava em obras. Tinha um comboio para apanhar, que me levaria às Correntes d'Escritas, 21º ano, tendo eu falhado só uns dois ou três, por razões várias (de uma delas fui a Las Vegas ver o Elton John - acreditem se quiserem). Essa aula começou tarde e acabou cedo, o meu plano foi pelo cano. Dias depois cairia a notícia de que o escritor Luís Sepúlveda tinha contraído a Covid-19. O resto acelerou muito depressa.
Há uns sete anos fiquei dois dias em terra em Frankfurt porque me tinha enganado numa letra a preencher o visto para o passaporte. Estava concentrado em não me enganar nos números, escrevi PT em vez de P, que é como começa o passaporte. Para cúmulo, era o Dia Nacional da Índia e o consulado estava fechado. No dia seguinte já não deu para apanhar o voo. Passada a primeira fúria, decidi arranjar hotel, ir beber uma cerveja, ligar a amigos. Falhei uma conferência, mas tratei de assuntos. Há gente que por uma distração perde a vida - perder uma conferência ou uma aula, nessa perspetiva, é coisa pouca.
Uma memória é, quase sempre coisa boa - quando mergulhamos a mão na água nunca sabemos o que vamos encontrar. Outra memória, esta de há 35 anos: numa palestra-cabaré na Gulbenkian com o o poeta Alberto Pimenta, lemos um poema de Jorge Sousa Braga, então um jovem poeta. O poema é sobre Portugal e intitula-se Portugal. Podem lê-lo
aqui.
1. Um presente
Jorge Sousa Braga fez agora uma bonita versão de um poema de Elisabeth Bishop. Isto também nos lembra o que discutimos em aula: como traduzir forma e conteúdo num texto no qual a forma é conteúdo e ambos são indivísiveis?
A NOITE TODA COLADOS
A noite toda colados
Um ao outro os amantes
Nem quando se voltam
Ficam afastados
Duas páginas coladas
De um livro futuro
Uma lê a outra
No escuro
O que o outro sabe
Sabe cada um
Da cabeça aos pés
Sem esforço nenhum
Elizabeth Bishop, USA (1911-1979)
(versão minha)
E agora o original:
“Close, close all night
the lovers keep.
They turn together
in their sleep,
Close as two pages
in a book
that read each other
in the dark.
Each knows all
the other knows,
learned by heart
from head to toes.”